quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

O PILÃO DE MALANGE



Veio de tão longe, muita fuba foi lá fabricada

Velho, velhinho, carcomido, já com rachas,

Pena seria acabar no lixo ou numa fogueira qualquer.


Deu-se-lhe uma nova vida, com tinta e figurações,

E ele no seu silêncio, parece dizer com satisfação:

"Já não sirvo pra moer o Bombó, mas...

Olha só a minha BANGA FUKULA"


Álvaro Panta



NOITE DE PRIMAVERA


















De repente todo o espaço pára...,

Pára, escorrega, desembrulha-se...,

E num canto do tecto, muito mais longe de que ele está,

Abrem mãos brancas janelas secretas

E há ramos de violetas caindo

De haver uma noite de primavera lá fora

Sobre o eu estar de olhos fechados...

(Fernando Pessoa)

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

PERFUME DA FLOR




E passa uma borboleta por diante de mim

pela primeira vez no Universo eu reparo

Que as borboletas não têm cor nem movimento,

Assim como as flores não têm perfume nem cor.

No movimento da borboleta o movimento é que se move,

O perfume é que perfume no perfume da flor.

A borboleta é apenas borboleta.

E a flor é apenas flor.


(FERNANDO PESSOA)

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

CORES DE AMOR






Se eu pudesse ir buscar a confiança

O respeito a amizade a força da razão

Se eu pudesse atravessava fronteiras

Distribuia o sol de mão em mão.


(Augusto Guerra)

FIGURA ÍMPAR




Poesia Matemática




Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a, do Ápice à Base,
uma figura ímpar:
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo octogonal, seios esferóides.
Fez da sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
“Quem és tu?”, indagou ele
em ânsia radical.
“Sou a soma dos quadrados dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa.”



(MILLOR FERNANDES)

domingo, 16 de outubro de 2011

ANDORINHAS



Aonde as andorinhas que as não vejo?


Atrasos? Nunca os houve neste Céu! Talvez


seja, afinal, engano meu ......... Ou talvez seja


o Céu que eu desejo ...


(Maria João Brito de Sousa)

terça-feira, 11 de outubro de 2011

AO MEU PAI



Partiste faz hoje um ano.

Deixaste-nos tristeza,

Mas hoje tenho a certeza

Estás bem , por nós zelando.


Sempre tive por ti

Orgulho que não to soube transmitir

Mas sei que o sabias

E chamaste-me meu AMIGO


Pai, um Beijo com TERNURA

sábado, 8 de outubro de 2011

ÁFRIKA


No teu sorriso deixei a minha aura
Nos teus ouvidos ficaram as minhas juras
Deixei-te com as minhas promessas
Entreguei-te o meu coração,
Porque és tu que eu amo
África.

Labanta, nu conversa
Nu argui mó pa Céu
Nu pidi Diós perdón
di nós pecado.

(Silvino Évora)

domingo, 25 de setembro de 2011

OUTONO



No entardecer da terra

O sopro do longo outono

Amareleceu no chão.


Um vago vento erra,

Como um sonho mau num sono,

Na lívida solidão


Soergue as folhas, e pousa

As folhas, e volve, e revolve,

E esvai-se inda outravez.

Mas a folha não repousa,

Eo vento lívido volve

E expira na lividez,


(Fernando Pessoa)

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Fernando Pessoa




Venho de longe e trago no perfil,
Em forma nevoenta e afastada,
O perfil de outro ser que desagrada
Ao meu actual recorte humano e vil.

(FERNANDO PESSOA)

sábado, 17 de setembro de 2011

New York (de Rita & João)







Resplandeces e ris, ardes e tumultuas;

Na escalada do céu, galgando em fúria o espaço,

Sobem do teu tear de praças e de ruas

Altas de ferro, Atneus de Pedra e Brontes de Aço.

Mas, como as tuas Babéis, debalde o céu recortas,

E pesas sobre o mar, quando, quando o teu vulto assoma,

Como a recordação do Tebas de cem portas.




(Olavo Bilac)