Passa entre as sombras de Arvoredo
Passa entre as sombras de arvoredo
Um vago vento que parece
Que não passou, que passa a medo,
Ou que há porque desaparece.
O ouvido escuta o não-ouvir
A alma, no ouvido debruçada,
Sente uma angústia a não sentir
E quer melhor ou pior que nada.
É como quando a alma não tem
Quem ame, quem espere ou quem sinta,
Quando considera um bem
O próprio mal, desde que não minta.
E entre onde as sombras do arvoredo
Sequestram sons e brisas prendem,
Este não passar passa a medo
E certas folhas se desprendem.
Então porque há folhas que caem,
Volta a ilusão de haver o vento,
Mas elas, caindo hirtas, traem,
Que não há brisa no momento.
(Fernando Pessoa)